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Na noite deste sábado, 8, o município de Lagarto recebeu o espetáculo teatral “Olhos Bonitos, Quadros Feios”, do Grupo de Teatro Tripulante. A apresentação aconteceu na Escola Municipal Adelina Maria de Santana Souza, na Praça Sebastião Garcez (Praça da Bíblia), reunindo um público diversificado e entusiasta da arte. A peça foi viabilizada por meio da Lei Paulo Gustavo, através da Fundação de Cultura e Artes Aperipê de Sergipe (Funcap), com o apoio logístico da Prefeitura Municipal de Lagarto e da Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Dirigida por João Pedrosa, a obra trouxe uma reflexão sobre temas como amor, desilusão e frustração, tendo como personagem central Eduardo Zaneli. Com texto original de Mario Vargas Llosa e adaptação para o público brasileiro, a peça teve sua trama situada em Aracaju, incorporando elementos da cultura nordestina na linguagem dos personagens.

O diretor João Pedrosa destacou a importância de apresentar um texto que provoca discussões sobre arte e sociedade. “Foi em 2009 que eu estava à procura de um texto para dirigir e fiz uma viagem à Espanha. Estava no El Corte Inglés quando esse livro, de Mario Vargas Llosa, veio parar nas minhas mãos. No teatro, encontrar bons textos é complicado, e essa peça me chamou atenção pelos temas que aborda. Fala sobre um crítico de arte que é gay, mas não consegue se assumir, sobre o machismo presente na sociedade e a influência da arte na vida das pessoas. Eu acredito que trazer um tema como esse para o palco é essencial para gerar debate. A peça não endossa o machismo, pelo contrário, traz à tona essa discussão para que seja refletida pelo público”, explica.

Pedrosa também revelou que a escolha por Lagarto se deu pela receptividade da Secult e pela ligação de membros da companhia com a cidade. “Nós passamos em um edital da Lei Paulo Gustavo que previa apresentações em quatro regiões distintas. Quando entramos em contato com Lagarto, fomos muito bem recebidos pela Secult, que abriu as portas para a gente. Além disso, temos a Maria Geiciane, que é daqui, e o Hiel, que também tem um vínculo muito forte com Lagarto. Eles queriam muito apresentar aqui, e foi essa conexão que nos trouxe até a cidade”.

Público celebra a experiência teatral

Entre os espectadores, o ator, diretor e produtor teatral Benício Júnior ressaltou a importância da circulação de espetáculos de fora na cidade. “Eu acho muito necessário esse intercâmbio. Lagarto tem produzido muito teatro local, mas é fundamental que espetáculos de outras regiões venham para cá. Essa troca fortalece o movimento cultural e nos permite aprender uns com os outros. Como produtor e oficineiro, tenho trabalhado para movimentar a parte teatral da cidade desde a pandemia, e é gratificante ver ações como essa acontecendo. A arte precisa estar presente em todos os espaços, e Lagarto tem um potencial enorme para ser um centro cultural de referência. O apoio da prefeitura para trazer espetáculos como este é essencial, pois sem incentivo, o teatro não sobrevive. Cultura é negócio, é trabalho, e precisa ser valorizada”, destacou Benício.

A professora de arte Renata Carvalho também celebrou a chegada do espetáculo à cidade e fez um apelo por mais espaços dedicados à arte. “Vim hoje porque é arte. Não sabia o tema da peça, não vim acompanhada, mas sei da importância de eventos como este. Lagarto é um celeiro de artistas incríveis, e como professora, vejo isso de perto. Tem gente produzindo arte de todas as formas: música, pintura, dança, fotografia, teatro. Mas falta um teatro na cidade, um espaço adequado para receber esses artistas. Claro que é ótimo que a escola tenha nos acolhido, mas um teatro tem toda uma estrutura que valoriza o trabalho do artista e a experiência do público. Nem toda peça pode ser apresentada em praça pública, assim como nem toda arte de rua funcionaria em um palco fechado”, ressaltou.

Renata também destacou o papel fundamental da Secult em trazer espetáculos como este para a cidade. “Espero que também olhem para os talentos que já existem aqui e que precisam de oportunidades para crescer. Arte é essencial na nossa vida”, acrescentou a professora.

O professor da rede pública Genivaldo Oliveira também destacou o impacto do espetáculo e a necessidade de mais incentivo para a cultura no município. “O espetáculo foi maravilhoso. As palmas no final mostraram que o público reconheceu o trabalho dos artistas. Eu sou diretor de uma quadrilha junina e sei como é difícil manter uma tradição cultural sem apoio. A peça trouxe um olhar sobre a arte, sobre como enxergamos uma obra e o que ela pode representar. Eventos assim fazem diferença na vida das pessoas, e para que eles aconteçam precisamos de incentivo. O apoio da Secretaria [Municipal] de Cultura foi essencial para essa apresentação, e agradecemos por isso. Precisamos de leis que incentivem a cultura local e garantam que artistas possam continuar produzindo. A arte transforma, e Lagarto merece mais espaços e oportunidades para que ela floresça”, pontuou.

Compromisso com a cultura

O secretário executivo da Secult, Bruno Vital, reforçou o compromisso da prefeitura em apoiar eventos culturais e fortalecer a arte no município. “Para nós, da Secretaria de Cultura, é gratificante receber artistas em Lagarto e ver a cidade se tornar um polo para a cultura. Fizemos toda a logística da apresentação em apenas uma semana, porque acreditamos na importância de fomentar a arte. Além de enriquecer a cena cultural local, eventos como este incentivam novas iniciativas. O teatro ainda é escasso por aqui, mas com ações como esta, esperamos despertar o interesse da população e estimular a criação de mais companhias teatrais no município. Queremos que Lagarto seja referência e que o público tenha acesso a uma programação cultural cada vez mais diversa e enriquecedora”.

Com uma recepção calorosa do público, Olhos Bonitos, Quadros Feios cumpriu seu propósito de provocar reflexões e fomentar o debate sobre temas sociais e artísticos. A apresentação reforçou a necessidade de mais investimentos em cultura e espaços dedicados à arte, deixando um impacto positivo nos espectadores e consolidando Lagarto como um local aberto para novas produções teatrais.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2025