Parafusos é um grupo folclórico lagartense formado por brincantes que dançam rodando de um lado para o outro, torcendo e distorcendo, em torno de si mesmo, fazendo círculos e outras coreografias ao som de um Trio Nordestino e de uma canção específica: “Quem quiser ver o bonito, saia fora e venha ver. Venha ver os Parafusos, a torcer e a distorcer”, enquanto um dos seus membros permanece imóvel, carregando um estandarte que contém uma imagem e o nome do grupo. É comum também, em suas apresentações, uma criança igualmente adornada portar a bandeira de Lagarto em miniatura.

Eles usam um chapéu cônico branco e vestem anáguas bem rodadas da mesma tonalidade, apresentando-se com sandálias brancas e o rosto pintado de igual cor. Mas até chegar a sua última versão, o Parafusos passou por algumas alterações, dentre elas: integrou um personagem indígena e usou um chapéu de palha com um acessório em espiral, um chapéu ráfia com uma fita vermelha e um sapato Conga. Também já se apresentaram descalços e com a bandeira da cidade.

O grupo tem origem nas lendas de escravos fugitivos que roubavam as anáguas das sinhazinhas do quaradouro, em tempo da escravidão, e saiam pelos campos, na escuridão, com os rostos pintados, parecendo assombração. Disfarçados e valendo-se do imaginário da época, os escravizados fugiam para o território quilombola e a procura de alimento, em fins do século XIX. Dizem que após a Abolição esses negros revelaram o feito, brincado nas ruas de Lagarto com a indumentária de fuga (que também lhe serviu de cobertor), comemorando a liberdade. Dizem que o padre da época, observando o movimento e brincadeira “… a torcer e a distorcer”, batizou-lhes de “Parafusos”.

Essa tradição ficou esquecida durante anos até ser revitalizada na década de 1980, quando ganhou projeção e passou a participar do Festival do Folclore de Olímpia, reafirmando-se como manifestação cultural de destaque e de reconhecimento nacional pelas mãos dos entusiastas e mestres da cultura popular, Adalberto Fonseca, Sr. Gérson, Dona Ione e Éder Santana. Esse folguedo de tradição afrolagartense é o único do gênero no país e por essa razão recebeu diversas homenagens, tornando-se tema de inúmeras pesquisas e trabalhos artísticos, a exemplo do Dicionário do Folclore Brasileiro de Câmara Cascudo e do Menino Parafuso de Olívia de Mello Franco.

O Parafosos representa e orgulha o povo lagartense e sergipano, por essa razão foi reconhecido patrimônio cultural municipal (Lei Nº 850, de 14 de junho de 2019) e estadual (Lei Nº 8.767, de outubro de 2020). Ele foi imortalizado em uma das estátuas no Largo da Gente Sergipana (inaugurado em 2018) e na sua cidade de origem, também foi o grupo homenageado no 59º Festival do Folclore de Olímpia – FEFOL (em 2023) e representado no desfile da Escola de Samba Mocidade Independente da Zona Leste (em 2023).

Referências:

ALENCAR, Aglaé d’Ávila Fontes de. Danças e folguedos: iniciação do folclore sergipano. 2. ed. Aracaju: s.r., 2003.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Global, 2002.
OLIVEIRA, Irineu Roberto de. A saga dos Parafusos de Lagarto: resistência e ressignificação. 2002. 120f. Trabalho de conclusão de Curso. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2002.
PORANDUBA – Cartas de Cultura. Disponível em: < https://cartasdecultura.com.br/parafuso/>, acessado em 10/06/2024.
SANTANA, Flávio. DÉDA, Talita. A Folkcomunicação a partir do grupo folclórico Parafusos. Anais. XIX Congresso de Ciências da Comunicação – Intercom. Fortaleza, 2017.
FRANCO, Olívia de Mello. Menino Parafuso. São Paulo: Autêntica, 2008.
NASCIMENTO, Jósé Uesele Oliveira; ANDRADE, Manoel Ribeiro. A Vida Cultural Lagartense: a cidade de Lagarto como lugar de memória. Revista da Academia Lagartense de Letras, v. 1, p. 71, 2017.

Autores: José Uesele Oliveira Nascimento e Manoel Ribeiro Andrade (NMPH/DAC/SECULT).

Última atualização em 18 de junho de 2024